O TEMPO COM TEMPO PARA PENSAR

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Quando o tempo é bom para refletir eu sempre quero começar com a filosofia helênica; o que me remete, desta vez, a um curto verso do célebre poeta Eurípedes: “O tempo dirá tudo à posteridade; mesmo que nada lhe seja perguntado”. Sim, um dia será assim por ali, naquelas terras acolá; onde tantas águas ainda passarão tranquilamente sob a ponte, e onde há, também, acreditem, quem que não se fazem parcelas, mas não se bastam; querem mais (ou menos); vão além e amiúdam-se, ainda mais, ante um submundo tacanho e inservível; ou, quem sabe, servindo sim, em última análise, de mal exemplo; o que os fazem, enfim, ter uma razão compreensível e bisonha de ser e/ou existir. Que fazer? “Você nunca vai chegar ao seu destino se parar e atirar pedras em cada cão que late”, muito bem disse o ex-primeiro ministro inglês Winston Churchill. Mas nem todos estão surdos, nem todas as bocas estão mudas, nem todos os olhos estão míopes. Não vai muito longe aquele tempo; duros tempos de vidas imersas

QUANDO A POLÍCIA FAZ POLÍTICA

A Rodovia PI-113, que liga a cidade de Piracuruca ao povoado Alto Alegre, foi recentemente o sangrento cenário de uma das mais revoltantes tragédias já registradas nesta cidade. Ali o vereador eleito Daniel Doca foi alvejado e morto a tiros por assaltantes de motos no final da tarde do dia 19 de Novembro deste ano. Emudeceu uma juventude, projetos, sonhos e, uma vida foi arrancada brutalmente do seu leito calmo de simplicidade e de amizades.

Frente ao sentimento de perda e de dor, não temos como esconder a revolta e o medo diante da insegurança generalizada em que todos nós vivemos e que nos torna fácil alvo da criminalidade, com tamanha inoperância e descaso do governo no trato da segurança dos piracuruquenses.

Nessa estrada; que leva inúmeras pessoas, diariamente, para dezenas de comunidades rurais de Piracuruca e ao vizinho município de São João da Fronteira; assaltos e mais assaltos foram verificadas com vítimas agredidas, humilhadas, amordaçadas e, roubados seus veículos. A cada lamentável episódio a polícia em sua crônica letargia nunca foi capaz de trocar de passo na solução de nenhuma das repetidas ocorrências. Aos poucos a rodovia transformou-se numa roleta russa para milhares de cidadãos que não tinham (e não tem) outro caminho e são obrigados a se utilizarem da estrada rotineiramente.

Espreitar a sorte e desafiar uma tragédia anunciada assim, tem sido, desde muito tempo, o jeito de viver do piracuruquense, empurrado pela inexistente ação governamental de segurança pública.

A vida imolada que hoje dissemina o sofrimento em tantos corações que se partem e olhares que se esvaziam, também é uma mácula indelével sobre a péssima imagem de quem tem a obrigação de proteger o cidadão. Mas o que falta para que o estado cumpra a sua obrigação constitucional em Piracuruca? Viaturas, policiais, armas ou outros equipamentos? Não é o que parece.

Não se foram, ainda, mais que dois meses e meio; mais precisamente nos últimos dias que antecederam o pleito eleitoral deste ano; Piracuruca foi tomada por uma das mais espetaculosas operações dita "policial". Dezenas de viaturas e centenas de policiais transpunham-se pelas ruas, praças e avenidas. Visto de longe nenhuma dúvida poderia pairar de que a pacata população estaria sitiada, e as forças reunidas do "bem" insurgiram-se em defesa da libertação. Até uma paralela milícia sinistramente vestida de preto e sobre duas rodas, palmilhava o território.

Mas para que? Teriam sido aqueles dias os mais "seguros" da vida da cidade? Com tanto aparato aqueles dias hoje deviam ser lembrados como os instantes de maior presença do estado assegurando a paz aos cidadãos. Mas não foi assim....

A estapafúrdia "operação" facciosa, ao contrário; intimidava o exercício das livres escolhas, amedrontava, cingia a liberdade, emparedava garantias legais e intocáveis do cidadão brasileiro. Quem teve o "desprazer" daqueles dias, se debate entre as tétricas lembranças e a perplexidade de como tudo foi possível ser arbitrado, e como a inversão dos papéis fez de Piracuruca um território do medo e da insegurança, enquanto todos os canais se fechavam para denúncias, e uma poderosa máquina administrativa fez-se escudeiro que abafou o grito rouco de quem tentou, debalde, protestar.

Para aqueles dias e para aqueles interesses o aparelho policial do estado soube ser com exímia competência capaz da consecução dos objetivos nada dignos. Para, hoje, combater a crescente criminalidade na cidade; que constrange, que humilha, que fere, que mata; as viaturas se foram, o policiamento esvaiu-se, o "show" acabou, e nem polícia, nem milícia vem ao socorro do povo piracuruquense.

Toda a demonstração de força que serviu a uma bandeira política permitindo absurdos, desmandos e transgressões dos seus, e amordaçando o direito de outros imparcialmente, agora é carrasco dos seus e dos outros, e todos estão nivelados por baixo; importância nenhuma tem mais, como se não se tratasse de uma cidade, de um povo, de uma nação.

Penso que agora, ao sabor amargo do desengano, muitos dos que hoje se apercebem do quanto foram politicamente logrados e passado o efeito do ópio, talvez encontrem no dístico dos inconfidentes mineiros: "Libertas Quae Sera Tamen", "ainda que seja tardia", o melhor exemplo; não queiram mais repetir a dose, e conheçam, então, o quanto é desastroso quando a polícia faz política. (Escrito em 11.12.2008).

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