Não faz tantos dias que se ouvia por todos os cantos do Piauí um refrão que, de tanto se repetir, até pareceu mesmo verdade para milhões de pessoas. “A boa nova” falava que o Piauí está em dia, a segurança está em dia, e tantos outros dias que, certamente, haveremos de conhecer agora, depois da euforia do refrão.
Minha primeira interrogação vai agora, para a segurança pública em Piracuruca. Há quase um mês não temos delegado de polícia. Sem comando, os policiais lotados na delegacia desdobram-se em realizar trabalhos esporádicos. Enquanto isso, a criminalidade, valendo-se desta irresponsável omissão governamental, organiza-se e já promove uma onda de arrombamentos, roubos e furtos, deixando uma cidade inteira sob o signo do medo; e muitas vezes, o que é pior, entre o fogo cruzado de balas trocadas entre grupos criminosos rivais. O delegado regional que se senta em sua cadeira há mais de 40 quilômetros de Piracuruca, na vizinha cidade de Piripiri, é a pessoa que está respondendo legalmente pela segurança de Piracuruca.
Parece brincadeira! Antes fosse, mas para nossa infelicidade é uma puríssima realidade que mostra muito bem a pouca preocupação que tem as autoridades piauienses com os cidadãos de Piracuruca.
É dever do estado promover a segurança das pessoas. Esta é uma garantia constitucional; Lei que em tese está acima de todas e, obrigatoriamente, teria que ser assegurada a todos em qualquer parte. Aqui não temos segurança nenhuma, e a cidadania parece, aos olhos do abandono, restos de sobrevivência de um povo, paradoxalmente exilado em sua própria terra, confinado em seu próprio lar.
Não é de hoje que em Piracuruca vivemos (ou sobrevivemos) e sabemos o quanto estamos esquecidos e desprotegidos por uma polícia desaparelhada, desmotivada, mal remunerada e desviada dos seus princípios fundamentais pela ingerência política truculenta e facciosa. Entre os 224 municípios do estado, figuramos entre os vinte maiores. A cidade, uma das mais velhas, guarda em si uma das maiores importâncias histórias e culturais; está localizada no principal corredor turístico, que dá acesso ao litoral; tem um dos mais visitados parques nacionais do país, e figura entre as cidades turísticas. Não pode ser tratada com tamanho isolamento. Não somente por ser e representar tudo isso, mas, sobretudo, por se tratar de pessoas que na condição de contribuintes de impostos são lembradas em seus deveres, como todos; mas inexplicavelmente esquecidas em seus direitos.
Se a falta de delegado é um extremo que nos deixa entregues à própria sorte frente a criminalidade, também convivemos, em outros momentos, com titulares sem a devida qualificação para o exercício do cargo, que vêm, ao longo dos anos, sendo indicados e têm representado muito mal a instituição. Esta sub-cultura tem viciado, injustiçado e transformado os cidadãos em reféns do abuso, da arbitrariedade, da impunidade, da violência e da insegurança.
O momento acéfalo em que vivemos é um dos mais temíveis e vergonhosos. Cercados pelo crime e a violência ganhando corpo sem conhecer fronteiras, certamente lembramos do refrão que até outro chegava aos nossos ouvidos, que agora já não faz mais sentido algum. É para chorar, mas o meu pai, octogenário, que sempre viveu de uma forma muito prática, filosofando em sua simplicidade, outro dia disse-me prontamente diante da minha preocupação: - “Onde não tem onça, veado escaramuça”. (Escrito em 17.10.2006)
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