O TEMPO COM TEMPO PARA PENSAR

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Quando o tempo é bom para refletir eu sempre quero começar com a filosofia helênica; o que me remete, desta vez, a um curto verso do célebre poeta Eurípedes: “O tempo dirá tudo à posteridade; mesmo que nada lhe seja perguntado”. Sim, um dia será assim por ali, naquelas terras acolá; onde tantas águas ainda passarão tranquilamente sob a ponte, e onde há, também, acreditem, quem que não se fazem parcelas, mas não se bastam; querem mais (ou menos); vão além e amiúdam-se, ainda mais, ante um submundo tacanho e inservível; ou, quem sabe, servindo sim, em última análise, de mal exemplo; o que os fazem, enfim, ter uma razão compreensível e bisonha de ser e/ou existir. Que fazer? “Você nunca vai chegar ao seu destino se parar e atirar pedras em cada cão que late”, muito bem disse o ex-primeiro ministro inglês Winston Churchill. Mas nem todos estão surdos, nem todas as bocas estão mudas, nem todos os olhos estão míopes. Não vai muito longe aquele tempo; duros tempos de vidas imersas

A LIBERDADE TEM PREÇO E CUSTA CARO

A liberdade talvez seja o objetivo que o homem mais busca em sua vida. Ser livre, no entanto, não é uma definição fácil, nem um caminho curto, ou um troféu sem sacrifícios. A conquista da liberdade sempre exigiu alto preço. Direitos exercidos hoje com extrema naturalidade parecem fáceis conquistas, mas custaram humilhações, torturas, sangue e vidas...

Quando pensamos em liberdade é impossível esquecer os pássaros, suas asas e o céu infinito para voar. Da mitologia grega tiramos o mais emblemático fascínio do homem pela liberdade. Ícaro, para fugir da ilha de Creta sobre o mar, para si confeccionou asas de penas e cera e foi orientado para não voar tão rente ao mar para que a umidade não deixasse suas asas pesadas; nem tão rente ao sol, para que o calor não derretesse a cera. Mas ao voar, a enorme liberdade o fez ir cada vez mais alto até toda cera derreter e cair para a morte em nome do prazer inigualável da sonhada liberdade. As modernas aeronaves de hoje com asas de metal dariam a Ícaro um vôo mais seguro, mas a rota pré-determinada negaria a emoção de não ter rumo e de ir a qualquer sentido.

“O preço da liberdade é a eterna vigilância”. A frase, cuja autoria há controvérsias, chama a atenção para o risco iminente de ataques a nossa liberdade por muitos que tomados por suas vaidades, sandices e atrocidades querem ignorar a história, atropelar o tempo e impor os atrasos absurdos vencidos a duras penas.

Não se pode calar! Não foi calando-se que em maio de 1.857 mulheres de uma cidade americana fizeram uma grande greve, ocuparam a fábrica e reivindicaram redução na carga diária de trabalho, equiparação de salários com os homens e tratamento digno dentro do ambiente de trabalho. A atitude foi reprimida violentamente e centenas de mulheres foram trancadas dentro da fábrica que foi incendiada e cerca de 130 tecelãs morreram carbonizadas.

Em julho de 1.789, em París, revolucionários também não se calaram e em nome da igualdade, fraternidade e liberdade, ocuparam a fortaleza símbolo do absolutismo francês rompendo os portões do presídio onde líderes da revolução francesa eram mantidos cativos no episódio mundialmente conhecido como a queda da bastilha; e o movimento tornou-se marco divisório dando início a idade contemporânea.

Sem a rebeldia dos negros africanos escravizados no Brasil no período colonial, as senzalas nunca teriam sido abertas e as correntes jamais teriam sido quebradas. Foi a voz dos abolicionistas, as arriscadas fugas noturnas para os quilombos e a imolação de muitas vidas que deram aos negros brasileiros a liberdade e o direito à cidadania.

Dos porões da ditadura militar imposta em 1.964 até hoje encontramos restos de crueldade do período mais sangrento, cruel, desumano, covarde e ardil da história do Brasil. O frescor da democracia e muitos direitos que usufruímos hoje, ainda a carecer de reparos, nos chegam agora por muitas bocas amordaçadas, inocentes encarcerados, jovens exilados, vidas ceifadas e corpos atirados ao mar. A liberdade tem um preço!

Ser livre convoca-nos ao enfrentamento dos desafios. As conquistas, em tempo algum, foram obras dos medrosos, dos omissos, dos covardes, dos venais. A nossa luta deve ser por um mundo melhor que queremos para as futuras gerações, por uma sociedade mais humana e mais justa, mas também em memória à luta e a coragem de milhares de heróis reconhecidos ou anônimos de ontem, para que tudo não tenha sido em vão.

Quando o sonho é de liberdade precisamos seguir o vôo de Ícaro, inspirarmos na coragem dos revolucionários franceses, revestirmos da bravura das tecelãs americanas, mirarmos na tenacidade do quilombo dos palmares, e insistirmos na batalha como os jovens, os jornalistas, os artistas e os intelectuais travaram combatendo a ditadura. Assim o nosso tempo terá contribuído para que a liberdade edificada, não tão livre como o vôo das gaivotas, possa pousar consciente de direitos e deveres e atenta para banir retrocessos, avançando cada vez mais alto nem que o sol derreta a cera até o fim.

Comentários

  1. Perfeito, lindo eu adoro essas coisas.
    Minha imaginação flutua, assim como Ícaro, um abraço ao poeta da vida.

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  2. Belo texto, mas aí me permito a fazer um questionamento. Será se essa liberdade existe?

    Parabéns pela reflexão.

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  3. PARABÉNSSSSSSSSSSS....VC É MUITO XIK EMILIA

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  4. Aplausos para o texto.Pena que a liberdade dificilmente é gozada por quem luta por ela.
    abraços.
    Geane_Bsb

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  5. Muito bom o texto, continue assim que você vai longe...

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