É quase uma unanimidade no mundo inteiro que o dinheiro é a condição número um para a felicidade. Quando uma ou outra opinião diverge dessa máxima é quase invariavelmente advinda de alguém que foi fantasticamente talentoso para ganhar dinheiro, mas sem a mesma habilidade para encontrar a tal felicidade.
Quem caminha longe da abundância financeira certamente livra-se de toda e qualquer suspeita para discordar daquilo que, de tanto ouvirmos, somos tentados a acreditar, que o dinheiro seria mesmo capaz de fazer alguém feliz. Coloco-me no rol dessa exceção mundial, que não tem dinheiro, que não é um infeliz e que tem quedas e picos de felicidade que oscilam, graças a Deus, longe do extrato bancário.
Algumas perguntas que me faço e não encontro respostas plausíveis, ao longo do tempo sustentam minha tese. Recentes dados dão conta, entre outras coisas, que se a população da terra fosse de apenas 100 pessoas, somente 20 delas seriam ricas; somente 7 teriam computador; somente 1 teria nível superior. Seria esta a proporção entre felizes e infelizes no mundo? Porque o maior índice de pessoas que perdem o interesse pela vida e dão fim à própria existência não é dos países miseráveis da África e sim, das nações mais desenvolvidas e de maior renda per capita? Por que quanto maior o império financeiro maior tem sido o consumo de antidepressivos? Por que os edifícios de onde centenas de pessoas se atiram todos os dias espatifando-se nos jardins são em sua esmagadora maioria de condomínios de luxo e quase nunca de apartamentos de classe média?
Se o dinheiro traz tanta felicidade não sei, sinceramente, porque os consultórios psiquiátricos faturam tanto se não são os pobres, sem dinheiro, que mantêm o lucrativo negócio. A felicidade dos milionários já devia ter quebrado a psiquiatria mundial e, seus profissionais já deviam ter migrado para outras especialidades, em vez de crescer assustadoramente como vemos.
Mas quais seriam os sintomas de uma vida feliz? Já ouvi que seria dormir tranquilamente sem dever a ninguém; ter muitos amigos e sentar com eles num barzinho da esquina discutindo amenidades e disparando sonoras gargalhadas; ter uma família harmoniosa; compartilhar com as outras pessoas as dificuldades e participar da solução dos problemas, dentre tantos e, tantos outros... Que sejam esses ou muitos outros, não dá para conceber que somente os abastados possam ser agraciados.
Aos que esperam que o dinheiro os faça felizes e para tanto se lançam numa corrida maluca neste mundo capitalista, muitas vezes desconhecendo limites e infringindo princípios fundamentais, usam a miséria como argumento para justificar sua visão obtusa. Eis aí um ponto muito interessante. Quem poderia ser feliz em extrema miséria? Que alegria poderia ter quem vive na mais brutal penúria? Neste ponto acredito que os poderes constituídos ao cumprirem o seu papel de assegurar dignidade aos cidadãos, esse sim, seria capaz de garantir a felicidade de muitos que vivem à margem da sociedade, e não seria dinheiro que os fariam rever seus conceitos.
Quando alguém, ironicamente, me pergunta se dinheiro tem importância na minha vida, esperam embaraçar-me ou talvez forçar contradições no meu ponto de vista já conhecido de muitos; digo que sim, que vivo numa sociedade capitalista, que trabalho e cobro dinheiro no final do mês para cumprir minhas obrigações, mas pára por aí o seu valor. Dinheiro e felicidade são duas construções distintas. Qualquer um que busca ser feliz deve esquecer o dinheiro, e se um dia encontrar a felicidade; aí sim, pode buscar os seus milhões. Milhões de dólares não representarão nada se você tem apenas centavos de felicidade.
Não sei se os meus centavos de reais crescerão um dia, talvez não... não sei. Se sim, somarão na felicidade que agradeço a Deus encontrar dentro de mim, sem grilhões e sem os milhões; se não, vivo consciente como a grande maioria vive inconsciente, sem um império financeiro e um castelo confortável de felicidade.
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