O TEMPO COM TEMPO PARA PENSAR

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Quando o tempo é bom para refletir eu sempre quero começar com a filosofia helênica; o que me remete, desta vez, a um curto verso do célebre poeta Eurípedes: “O tempo dirá tudo à posteridade; mesmo que nada lhe seja perguntado”. Sim, um dia será assim por ali, naquelas terras acolá; onde tantas águas ainda passarão tranquilamente sob a ponte, e onde há, também, acreditem, quem que não se fazem parcelas, mas não se bastam; querem mais (ou menos); vão além e amiúdam-se, ainda mais, ante um submundo tacanho e inservível; ou, quem sabe, servindo sim, em última análise, de mal exemplo; o que os fazem, enfim, ter uma razão compreensível e bisonha de ser e/ou existir. Que fazer? “Você nunca vai chegar ao seu destino se parar e atirar pedras em cada cão que late”, muito bem disse o ex-primeiro ministro inglês Winston Churchill. Mas nem todos estão surdos, nem todas as bocas estão mudas, nem todos os olhos estão míopes. Não vai muito longe aquele tempo; duros tempos de vidas imersas

PROFESSOR: ENSINAR OU APRENDER?

Meus 15 anos no magistério foram trazendo pouco a pouco a mim esta inevitável pergunta. No trabalho em sala de aula durante anos, depois como gerente do sistema de educação da minha cidade, em outro punhado de tempo, não me colocaram mais distante desta paradoxal realidade.

Agora, de volta à sala de aula, encontrei muito mais razões para ensaiar uma destemida jornada em busca de uma possível resposta. Escuto em todos os setores das escolas que há uma crise generalizada; que os alunos precisam de acompanhamento psicológico, que os estudantes dos nossos dias perderam o interesse pela importância do saber, que o sistema educacional está ruindo.

Comecei a pensar sobre tudo isto e aos poucos fui encontrando mais e mais interrogações que me parecem dizer que há uma apressada necessidade para indicar um responsável por tudo isso, antes que todas as coisas possam ser reviradas e examinadas. Quanto a mim, honestamente, o meu dedo indicador não se dispõe a apontar ninguém como o vilão desta propalada crise, que é fato.

Posso voltar-me para os professores brasileiros e dizer que perderam o entusiasmo e o compromisso de educadores? Eles ainda lutam por reconhecimento; trabalham, em muitos casos, em condições extremamente adversas, e dividem-se numa jornada desumana de três turnos. Podemos imaginar um ensino de excelência a partir deste ponto?

E os nossos estudantes? Eles são jovens, irreverentes, resistentes a normas e conceitos. Se dissermos que são eles que não querem nada, encontraremos uma boa e fácil saída para justificar todo o fracasso. Mas estaríamos sendo justos? Não foram assim nós, os nossos pais e avós? Não são próprias da juventude as peraltices da vida? Como educadores temos um papel a desempenhar diante disso tudo e não deve ser visto como um sacrifício, pois que é onde reside a essência da pedagogia.

Olhando nos olhos dos meus alunos tenho visto mais que um olhar. Parece haver um grito para que alguém pare nesta louca corrida de três turnos. Parece haver uma pessoa a dizer que se alguém não está querendo nada, o som não se sente refletir apenas de um lado, como todos querem fazer acreditar. Parece haver uma parte que não quer apenas aprender, também há algo que pode ensinar.

Não sei se nós (professores) estamos ensinando bem. Apesar de tanto que se questiona hoje em dia sobre isso, prefiro não deter aí o foco desta questão. Prefiro dizer categoricamente, sem medo de errar, que não estamos aprendendo bem, ou nem sequer queremos aprender. Recusamos as lições de simplicidade dos jovens e aceitamos a complexidade da vida moderna cegamente. Refutamos a alegria, o sorriso, a amizade, o abraço, a emoção a leveza de almas que não se atormentam pelos espectros dos valores materiais.

Nas escolas, tenho visto que a psicologia tem muito trabalho e pode ajudar bastante, mas não sei se estaria entre os alunos a maior tarefa. Os jovens estão ali apenas por um turno, a idade e a fase da vida em que estão não lhes impõem a pressão de pagar contas, manter aparências, suportar situações conjugais de conflito, aceitar as regras frias e matemáticas do capitalismo, nem para eles é tempo das frustrações e dos desabafos pelos fracassos. Os jovens parecem, portanto, precisar menos da psicologia.

Concluo que tenho muito para ensinar aos meus alunos e que isso tem uma importância gigantesca. Se deixar de fazê-lo terei perdido a razão da minha existência em sala de aula. É, pois, um elemento imprescindível. Mas, antes de tudo, preciso ouvir, enxergar, sentir, compreender, adentrar e aprender com aqueles a quem me proponho ensinar alguma coisa, que caminhos preciso me utilizar, e a que distância estão as pessoas que eu posso ajudar a passar por mim levando um pouco do melhor que eu tiver. Falo, então, para mim e para o professor que vive em mim, que tenho que aprender muito para ensinar mais. (Escrito em 16.07.2007).

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