O TEMPO COM TEMPO PARA PENSAR

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Quando o tempo é bom para refletir eu sempre quero começar com a filosofia helênica; o que me remete, desta vez, a um curto verso do célebre poeta Eurípedes: “O tempo dirá tudo à posteridade; mesmo que nada lhe seja perguntado”. Sim, um dia será assim por ali, naquelas terras acolá; onde tantas águas ainda passarão tranquilamente sob a ponte, e onde há, também, acreditem, quem que não se fazem parcelas, mas não se bastam; querem mais (ou menos); vão além e amiúdam-se, ainda mais, ante um submundo tacanho e inservível; ou, quem sabe, servindo sim, em última análise, de mal exemplo; o que os fazem, enfim, ter uma razão compreensível e bisonha de ser e/ou existir. Que fazer? “Você nunca vai chegar ao seu destino se parar e atirar pedras em cada cão que late”, muito bem disse o ex-primeiro ministro inglês Winston Churchill. Mas nem todos estão surdos, nem todas as bocas estão mudas, nem todos os olhos estão míopes. Não vai muito longe aquele tempo; duros tempos de vidas imersas

MEU VOTO NA LATA DO LIXO

Alguns dias atrás, em 07 de Abril de 2009, uma reunião da Câmara Municipal dos Vereadores de Piracuruca tomou uma decisão que me surpreendeu e me fez pensar muito sobre para onde foi o meu voto de vereador dado na eleição do ano passado.

Quero crer que à minha perplexidade devem juntar-se a de muitos outros que tenham sabido do que se passou ali naquela noite; ou que a partir de agora, não tendo o desprazer de ter estado lá, toma conhecimento do inacreditável absurdo.

Antes de qualquer coisa, é bom que se diga que as reuniões do nosso parlamento municipal no seu dia a dia, se dão da mais monótona forma imaginável no que tange à presença de populares no minúsculo espaço reservado a pessoas que supostamente poderiam estar interessadas em saber o que faz os nossos “nobres” edis. Salvo o olhar mirrado dos servidores da casa ali presos pela obrigação do cumprimento de um dever e de outros poucos quase sempre ligados aos “ilustres” representantes do povo, que lá estão para acompanhá-los ou para servirem como seus motoristas ou qualquer outra natureza de “aspone”; além desses não se ver mais ninguém.

Mas as últimas sessões fugiram à regra e foram tomadas com grande interesse pelo grande público dado os acontecimentos políticos que ganharam as ruas e passaram a ser discutidos pelas pessoas em todos os cantos. A vida parlamentar dos nossos “ícones” legislativos passou a ser assunto do povo, interesse da cidade. Para quem convive com a frieza dos assentos vazios em suas galerias, foi um excelente indicativo de que a sonhada presença dava os seus primeiros passos.

A Rádio Sete Cidades tomou o caminho do interesse popular e passou a transmitir ao vivo do plenário da Câmara as concorridas sessões. As opiniões e projetos dos legisladores podiam ser ouvidos por milhares de pessoas que compartilhavam as ondas do rádio ao mesmo tempo em diferentes pontos do município, inclusive em longínquas localidades rurais. Muito bom! A democracia vivia momentos de glória em uma das suas mais esplendorosas formas. Assim diria qualquer um que cobra ou que se propõe a garantir a tão cantada e decantada cidadania brasileira.

Muito bonito! Bom? Bonito? Talvez, mas não por muito tempo. Isso tudo incomodou alguns. Inquietou o rei e os mandados pelo rei. Certamente por expor o despreparo, a incompetência, a inoperância, ou sabe-se lá o que. Seria, talvez, o caso de parodiar William Shakespeare? “Há algo de podre no reino da Dinamarca”.

E na vergonhosa sessão do dia 07 de Abril (pasmem), um dos “admiráveis” vereadores apresentou um projeto que impede a transmissão radiofônica sob o vazio e descarado argumento de que os assuntos tratadas ali poderiam levar a discórdia a toda a população. Se não tivesse um fortíssimo motivo para chorar, dava até para rir de quão ridícula situação chegou a nossa Câmara Municipal.

A esdrúxula proposta foi colocada em votação. A Corte estava completa, com suas nove cadeiras ocupadas. O projeto não recebeu o voto do Presidente, Valter César de Brito, por força regimental que só permitiria seu voto em caso de empate na votação, o que não aconteceu. Dos oito vereadores votantes, apenas dois deles; é bom que se diga, Simão Pedro Alves de Melo e Francisco de Assis da Silva Melo, deram os seus votos a favor da transmissão ao vivo e, portanto, veemente contra o ardil projeto de censura. O meu voto dado para vereador na eleição do ano passado foi para a lata do lixo naquele momento.

Pergunto-me: o que leva alguém a subornar os seus próprios pensamentos e convicções e age a favor da singular e cega vontade de alguém que em sua incapacidade quer esconder os seus ilícitos procedimentos? Que valores moveram a consciência dessas pessoas naquela decisão? Seriam financeiros, como é dito em uníssono pela cidade? Que espécie de representantes nós temos como nossos porta-vozes? Que mulheres e homens são esses que ostentam esta farsa de defensores do povo e tentam se esconder em seus expedientes escusos, venais, fétidos e virulentos?

Tenho convicção que esse nauseante acontecimento atenta contra direitos e liberdades conquistadas a duras penas e ao custo de sangue e vidas interrompidas pela violência e a injustiça nos tempos da truculência que o país quer esquecer e nós precisamos reverenciar pelos sacrifícios. Estou certo que o inaceitável retrocesso não pode, em hipótese alguma, calar no íntimo das pessoas que são livres e conscientes e que precisam interpor-se agora e cada vez que algum aventureiro tentar ressuscitá-lo em um dos seus tresloucados delírios. (Escrito em 12.04.2009).

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