O TEMPO COM TEMPO PARA PENSAR

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Quando o tempo é bom para refletir eu sempre quero começar com a filosofia helênica; o que me remete, desta vez, a um curto verso do célebre poeta Eurípedes: “O tempo dirá tudo à posteridade; mesmo que nada lhe seja perguntado”. Sim, um dia será assim por ali, naquelas terras acolá; onde tantas águas ainda passarão tranquilamente sob a ponte, e onde há, também, acreditem, quem que não se fazem parcelas, mas não se bastam; querem mais (ou menos); vão além e amiúdam-se, ainda mais, ante um submundo tacanho e inservível; ou, quem sabe, servindo sim, em última análise, de mal exemplo; o que os fazem, enfim, ter uma razão compreensível e bisonha de ser e/ou existir. Que fazer? “Você nunca vai chegar ao seu destino se parar e atirar pedras em cada cão que late”, muito bem disse o ex-primeiro ministro inglês Winston Churchill. Mas nem todos estão surdos, nem todas as bocas estão mudas, nem todos os olhos estão míopes. Não vai muito longe aquele tempo; duros tempos de vidas imersas

EMOÇÃO QUE RIMA COM DESILUSÃO

Após o resultado das eleições estaduais deste ano em Piracuruca, vi a euforia das comemorações extrapolando os limites da lucidez e avançando sobre o pantanoso território da fantasia e da ilusão. Lembrei-me dos caminhantes do Saara que, sedentos e alquebrados, encontram miragens maravilhosas diante dos seus olhos; estão mais propensos a sonhar que a realizar o que há de fato adiante.

Aqui, no fervor da emoção e do devaneio, já começam a confundir sucessão estadual com municipal. Nunca se viu no Piauí tanto dinheiro investido num projeto de manutenção de poder. O partido dos trabalhadores, antes pedinte das calçadas, não teve constrangimento algum em derramar milhões de reais na mais cara campanha eleitoral já vista na história. A origem das gigantescas cifras, na verdade, ainda é desconhecida para os piauienses, mas aí cabe ao ministério público debruçar-se sobre as investigações.

O candidato governista ao palácio de Karnak veio para uma campanha à reeleição com a caneta e as chaves do cofre nas mãos e com todos os males da instituição da reeleição da forma como foi concebida no Brasil; isso por si só já comprimiria qualquer tentativa do exercício livre da vontade popular. Mas ainda havia a turbina presidencial alavancada pela distribuição de dinheiro aos pobres do nordeste a impor ou a fome ou o voto; e mais uma candidatura multimilionária, forjada no capricho de quem não impunha limites para a aquisição do cargo aspirado; sabe-se lá para qual fim ser utilizado. Sem falar do turvamento publicitário incrustado nos meios de comunicação, atados e afônicos a repetir o refrão de que o país das maravilhas agora é o Piauí.

Foi assim que a onda varreu o estado e desconheceu fronteiras. Deslumbrados com os efeitos desta penca de artifícios bem arquitetados e aplicados sobre o povo, é que os seguidores do governo em Piracuruca sonham com a eleição municipal de 2008. Ainda não se deram conta que o resultado de hoje não veio por obra própria de suas mãos, mas do plano de incursão armado para todo o estado. Ainda não se enxergaram com a conhecida carapaça enferrujada de descrédito, inoperância e truculência. Os cães ladram e se cansam e a caravana vai adiante. Foi assim nas eleições estaduais de 1998, de 2002 e agora o cenário se repete.

“Aos vencedores, as batatas”. Sei que há vencedores, mas são tão poucos em detrimento de tantos, que me faz lembrar uma cena da minha infância. O palhaço percorrendo as ruas gritando palavras de ordem, e centenas de crianças repetindo, atrás. O dono do circo, no entanto, ficava tranquilamente em sua tenda. Os seguidores do governo em Piracuruca seguem gritando o palhaço; não descobriram, ainda, que tipos de ídolo escolheram para adorar.

No dia a dia a onda passa e as pessoas sabem a quem hipotecar sua confiança. E quem divagou não sabe mais onde estão os seus líderes, se foram pirilampos na escuridão ou se voltarão nas próximas eleições. O mais duro é descobrir que a emoção rimou com desilusão. (Escrito em 06.10.2006).

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