O TEMPO COM TEMPO PARA PENSAR

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Quando o tempo é bom para refletir eu sempre quero começar com a filosofia helênica; o que me remete, desta vez, a um curto verso do célebre poeta Eurípedes: “O tempo dirá tudo à posteridade; mesmo que nada lhe seja perguntado”. Sim, um dia será assim por ali, naquelas terras acolá; onde tantas águas ainda passarão tranquilamente sob a ponte, e onde há, também, acreditem, quem que não se fazem parcelas, mas não se bastam; querem mais (ou menos); vão além e amiúdam-se, ainda mais, ante um submundo tacanho e inservível; ou, quem sabe, servindo sim, em última análise, de mal exemplo; o que os fazem, enfim, ter uma razão compreensível e bisonha de ser e/ou existir. Que fazer? “Você nunca vai chegar ao seu destino se parar e atirar pedras em cada cão que late”, muito bem disse o ex-primeiro ministro inglês Winston Churchill. Mas nem todos estão surdos, nem todas as bocas estão mudas, nem todos os olhos estão míopes. Não vai muito longe aquele tempo; duros tempos de vidas imersas

DISCURSO: ANIVERSÁRIO DE 53 ANOS (20/11/2015)

                      
Amigos, a razão maior desta noite é a oportunidade de estarmos juntos. Eu acredito no encontro de almas, de algo que transcende a matéria e nos toca de uma forma mais profunda, mais intensa, mais verdadeira. O filósofo francês Voltaire afirmava: Amizade é uma comunhão de almas. Para mim é assim que as amizades são construídas. São sementes plantadas, que nascem e se erguem e se tornam aquilo que temos de mais valioso na vida, e que tantos esquecem de lembrar da riqueza que é ter um amigo.

Eu quis esta reunião já tem algum tempo, e por outro bocado de tempo ela foi adiada por um motivo ou por outro. Quis que fosse em setembro deste ano por ocasião do meu aniversário, mas um infortúnio de força maior impediu que acontecesse naquela data, e hoje estamos aqui. De todas as metáforas para a vida, dizer que é uma jornada, a mim parece a mais pertinente, então eis-me aqui como um caminhante. Nesta noite quero externar, contar para os amigos que aqui estão sobre o meu carinho, o meu apreço, o meu respeito, a minha admiração, o prazer de poder olhar para cada um e chamá-los de amigos.

Alguns serão citados nestas minhas palavras. Não poderia mencionar todos pelas razões óbvias de tempo e enfado; contudo, isso não quer medir qualquer ordem de importância. Por uma razão ou por outra, em um momento ou em outro, numa lágrima ou num sorriso, em um tempo mais distante ou a poucos meses passados, cada um dos que aqui estão participaram e participam da minha jornada; escreveram comigo uma história; torceram, lamentaram as quedas, estenderam a mão para levantar-me quando cai, comemoraram as conquistas, foram parte das vitórias.

Quero olhar nos olhos de cada um aqui e dizer de espírito desarmado, leve qual pluma que vagueia no ar, brando qual o vento que sobra nas manhãs: obrigado pela amizade, por fazerem parte da minha vida, por estarem comigo nesta jornada, por terem construído comigo esta felicidade que aqui compartilho com cada um. Obrigado!

Há, contudo, duas pessoas a quem devo mais, e aqui presto uma emocionada homenagem a suas memórias. Tornei-me em grande parte do que sou, graças aos seus ensinamentos, a educação que me transmitiram; graças ao suor que derramaram trabalhando para dá dignidade a uma família de três filhos: Eu, minha irmã Lúcia e minha irmã Maria do Carmo (para a família, a Bibia). Elas estão aqui. Somos três, somos a continuidade, temos a responsabilidade de unidos não deixar morrer aquilo que nos foi ensinado para a vida. Padre Zezinho em uma das suas mais belas composições diz: “Que as crianças aprendam no colo o sentido da vida”. A citação transporta-me à mãe que não pode ser vista por vocês agora, mas pode ser sentida aqui pelo filho que jamais perdeu a sua proteção.

Tenho, também, aqui comigo e em cada dia quando desperto, um pai vivo e brincalhão; ele não se foi. Trago comigo a sua alegria, suas reflexões, suas filosofias, suas lições de buscar a felicidade nas coisas simples, pequenas. É inseparável de mim a imagem do homem que as dificuldades da vida de um pedreiro jamais o impediu de sorrir, de tornar a alegria a sua marca e transmitir paz e equilíbrio a sua família. Foi um amante de suas próprias citações apesar da pouca escolaridade. Aprendemos o seu código de conduta, seu estilo de comportamento, sua visão da vida e do mundo, baseados naquilo que ele sempre acreditou e nos ensinou. São inesquecíveis os seus pensamentos mais repetidos. Vou citar aqui dois deles: “Ser pobre não é ruim; ruim é ser inconformado”; outro: “O mundo não tem porteiras, mas precisa ter vaqueiros”.

Hoje, quando converso com meus filhos, tenho esta inspiração. Faz-me orgulhoso saber que tudo vem daquilo que aprendi dentro de casa. Como costuma dizer minha irmã Bibia olhando prá mim e parafraseando Luiz Gonzaga, rei do baião: “Não esqueça que tudo começou com ele”.

Amiga Zilca Patrícia! “Você que me diz as verdade com frases abertas” trecho da conhecida composição de Roberto e Erasmo Carlos. Mais de 20 anos de amizade. Mais de 20 anos, Zilca!!! Não consigo lembrar de nenhuma passagem decisiva dessa minha jornada que você não tenha estado presente. Ainda adolescente você foi minha aluna; tornou-se adulta, constituiu sua família. Vi seus filhos nascerem, crescerem, hoje são três rapazes. Acompanhei de perto sua luta destemida e árdua na vida acadêmica e hoje vejo a enfermeira Zilca Patrícia da Trindade Lobo esmerando-se e melhorando profissionalmente a cada dia; você venceu, amiga!

Confiança ergue-se tijolo por tijolo como numa construção de uma casa. A arca que você guarda repleta de retalhos da minha vida, é o reflexo dessa construção de duas décadas. Tenho orgulho de ser seu amigo. Não apenas de ouvir e dizer palavras bonitas com o intuito de agradar, mas de ouvir e dizer palavras sinceras com o intuito de ajudar. Obrigado amiga, solidária, tenaz, de princípios e de valores.

Mas, disse Nelson Mandela ao lembrar dos amigos que lutaram com ele para vencer a prisão, o preconceito e descriminação racial na África do Sul: “Estremeço sempre quando penso no que teria acontecido se estivéssemos completamente sozinhos. Teríamos sobrevivido, mas a tarefa teria sido muito mais difícil”.

A política no Brasil, de maneira geral, sempre remete-nos a acontecimentos tristes, lamentáveis, decepcionantes. O senador Magno Malta disse recentemente na tribuna do Senado Federal, que o pior de tudo que acontece hoje no Brasil, é a tendência das pessoas de jogar na mesma vala dos salteadores, os bons administradores públicos, os comprometidos estadistas, os homens de bem que ainda acreditam que podem mudar o país e trabalham por sua cidade, por seu estado ou por seu país com descência e respeito.

Dr. Raimundo, vou abster-me de falar do político e do administrador que conheço bem em você, porque sou suspeito, porque participei como um dos seus secretários, durante vários anos, porque hoje sou um dos seus secretários honrosamente, porque as minhas palavras teriam, sim, um ingrediente de grande admiração pessoal e perderiam a isenção.

Tudo começou em 1992, e de lá para cá já se foram até julho deste ano, 23 anos. Seis eleições municipais, seis eleições estaduais, doze campanhas eleitorais, uma trejetória de tantas batalhas, de muitas conquistas, momentos inesquecíveis. Mas, repito, quero falar do amigo; do político nem eu nem ninguém fala melhor que esse leque de resultados eleitorais conhecido de todos. Dra. Nívia é sua maior aliada, amiga e esposa, e a tenacidade da minha amizade tem como alicerce esta união harmoniosa; foi construída para ambos e só assim tem significado; porque não concebo um sem o outro.

Eu ganhei, ganhei muito! Conhecer e conviver com alguém que tem o trabalho como uma missão de servir é ímpar. Queria eu ter esta disposição de acordar tão cedo, de esquecer o relógio, de tornar o tempo no melhor aliado, de ter pressa para fazer, de fazer bem feito. Esses anos todos forjaram em mim um dos seus discípulos; estranho discípulo, é verdade, que gosta de dormir muito e fazer avançar a noite por uma parte da manhã, e de seguir devagar. Sou fiel intransigente da máxima de Renato Texeira e Almir Sater expressa na canção mais bonita da música popular brasileira, na minha opiniao: “Ando devagar porque já tive pressa e, levo este sorriso porque já chorei demais”.

Para ser justo, agradecer é o melhor verbo aqui. Indubitavelmente tenho muito do que me orgulhar nesta minha trajetória de trabalho, fui parte dessa escalada de vitórias, e as experiências que me fazem hoje mais maduro se fizeram pelas oportunidades que me foram dadas, pela confiança em mim depositada, o que me convence seguramente hoje, que são coisas indivisíveis na minha vida. "Se cheguei até aqui foi porque me apoiei em ombros de gigantes". Assim disse Isaac Newton, assim digo eu agora. A minha gratidão em qualquer tempo e em qualquer circunstância, está talhada em resistentes rochedos, tal que os ventos, as chuvas e o tempo não possam apagar. Obrigado!

Meus filhos! Eis aqui a razão maior da minha existência, o meu maior orgulho, o que me torna um homem seguramente feliz, os meu filhos! Somos amigos, conversamos, compartilhamos as adversidades, celebramos a vida, usufruímos a oportunidade que temos de estarmos juntos neste plano espiritual. Para vocês, e somente para vocês, qualquer coisa de mim interessa, e interessa muito.

Neste pouco mais de meio século de vida tenho muito para dizer-lhes. Mas se vocês me perguntarem agora: - Pai, o que o senhor fez nestes anos todos? Minha resposta é simples e muito curta (vou dizer olhando nos olhos de vocês): Eu amei... Sim, eu amei!!! Aqui está um homem que nunca se ajoelhou diante da covardia de não tentar. Eis aqui uma pessoa que nunca representou papéis sociais, que somente no espelho reconheceu quem devia satisfazer em seus propósitos, que sempre que falou “Eu te amo” esteve cheio desse sentimento.

Nunca busquei a felicidade fora de mim, jamais acreditei que pudesse encontrá-la em marcas de veículos, nos poucos zeros dos extratos do Banco do Brasil, ou em qualquer outra forma material. “É sempre mais feliz quem mais amou”, diz a letra da velha canção. Simone Emanuelle, você costuma dizer que quanto eu amo eu sou intenso. Verdade, minha filha! “Eu não sei amar pouco, ou eu amo muito, ou eu não amo”, desconheço o autor. Não sou visionário, não vivo de ilusões, eu apenas não sei fazer nada se não for de corpo, alma e coração. “Eu nasci assim, eu cresci assim, e sou mesmo assim; vou ser sempre assim”.

O amor que me move é o que me faz sorrir e tratar bem as pessoas onde eu trabalho; o amor que me move é o que me dá paciência para entender os adolescentes na sala de aula; o amor que me move é o que me faz nunca desistir da vida; o amor que me move é o que me faz feliz; o amor que me move é o que me faz ser compreensivo, tolerante, pacato, sereno. O que sinto e o que recebo de vocês, meu filhos, é um tesouro nosso, que não permitimos que ninguém possa tocar. Obrigado por serem esses filhos maravilhosos, por sermos amigos e companheiros, por estarmos prontos para lutar sempre que tem sido necessário. Obrigado por apoiar os meus projetos, por sonhar comigo os meus sonhos, por respeitarem as minhas decisões.

Ouvi muitos conselhos do meu pai e da minha mãe. Quero hoje dá alguns para vocês. Sejam intensos, vivam para amar, entreguem-se às suas paixões, lutem por aquilo que vocês acreditam. Simone Emanuelle, Christian Emanuel, Lucas Emanuel, ouçam bem: - Errar não é a pior coisa da vida, a pior coisa da vida é desistir, desanimar e passar a vida lamentando a coragem que não teve para tentar.

Aconselho com convicção: - Errem, errem muito.... mas não satisfaçam a vontade de quem quer que seja, siga o seu coração. Vão chamá-los de irresponsáveis, de inconsequentes, de aventureiros. Eles gostariam de fazer a mesma coisa, mas tiveram medo ou venderam as suas felicidades e se tornaram prisioneiros, e não suportam a luz da liberdade em seus olhos. Não quero, meus filhos, que sejam o que esta “sociedade” espera que vocês; quero que sejam aquilo que brotar dos seus corações, que lhes realizem, completem, e os façam felizes. Se o mundo julgá-los por isso, lembrem-se: - É melhor ser condenado pelo mundo que ser condenado por suas consciências. Não assassinem seus sonhos, não aceitem a mordaça.

Ouçam, acima de tudo, o íntimo, a alma; lá estará “o ouvido que lhe escuta quando a vozes se ocultam”. Busquem incessantemente dinheiro que sirva para atender suas necessidades; deixe-o para trás quando apenas servir para satisfazer vaidades.

Mas, há em mim uma outra imensa satisfação. Enchem meus olhos nesta noite, e quero apresentar a meus amigos a encantadora Roselma Cardoso, que veio aqui acompanhada da sua mãe. Não somos recentes, nos conhecemos há alguns anos. Nos reencontramos e lembramos nessa história o que está escrito no livro de Eclesiastes, capítulo 3, versículo 1 a 8: “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu. Tempo de chorar, e tempo de sorrir; tempo de perder e tempo de buscar; tempo de amar, tempo de abraçar, tempo de paz”. Obrigado, Roselma, por você estar aqui!

Quero agradecer a todos que contribuíram para tornar possível esta noite; somente com o apoio e o trabalho de muitos amigos é que foi possível esta realização. Obrigado à professora e empresária Keila. Nos conhecemos 1.985. Trinta anos, amiga! Obrigado à Pousada Sete Cidades, que hospeda Soraya Castelo Branco; à Anne Mary, Nevinha, Marse Trindade, Professora Fernanda Lemos, Jorge Henrique, Zé Francisco, Júlio César, Wyllyany e a todos que doaram seu trabalho com carinho.

Obrigado pelos depoimentos que prestaram, pelo carinho e pelo respeito. Obrigado a todos que vieram, que estão aqui; minhas amigas e ex-secretárias Nívia Escórcio e Ana Cláudia Avelino; a minha atual secretária Eliane Machado; Amiga Taty e Lara Alves que vieram de Teresina, quanta honra; Alcides Cardoso, homem do campo, homem trabalhador; Comadre Ayla, Comadre Gorete; Ana do Nenen do Angical, que me hospedam no Pé de Serra, na metade do caminho para o nosso Jaboti, Alcides; enfim, a todos.

Concluo com os belos versos de Milton Nascimento: “Amigo é coisa para se guardar no lado esquerdo do peito, mesmo que o tempo e a distância, digam não

Obrigado!

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