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Foto meramente ilustrativa do google imagens |
Têm sido muitos os temas que ao longo dos tempos vem inspirando pensadores, escritores e compositores para produzirem verdadeiras obras de arte que se tornaram grande sucesso de vendas em livros ou músicas que fazem parte da história de milhões de pessoas ao redor do mundo. Estão entre esses temas os amores, proibidos, não correspondidos, incompreendidos e tantos outros; as saudades insuportáveis e as que levam ao pranto de corações partidos; as paixões e suas loucuras e até suas tragédias; a solidão; as traições e suas dores próprias; os abandonos; encontros e re-encontros. Só para citar alguns deles.
Ao falar da solidão, no entanto, quer seja nas canções, nos romances ou nos pensamentos filosóficos encontramos sempre uma indicação de uma porta aberta para a alma. Diferente de muitos, não sei, penso que a solidão nunca anda desacompanhada.
Mas não seria isso um paradoxo? Respondo que a solidão traz sempre consigo o silêncio, a reflexão e as perguntas. Há quem não suporte, há quem aprende a conviver, há quem ame viver sozinho, há quem não sabe o que fazer com ela, há quem a veja um tanto carranca, e um pouco sorriso. Enquadro-me nesse último tipo.
Meu primeiro questionamento é: por que a solidão seria somente esse sinônimo doloroso de sofrimento e angustia, cantado e decantado nas canções e películas cinematográficas? O colombiano Gabriel Garcia Marquez escreveu “Cem anos de solidão”, uma das mais aclamadas obras no mundo inteiro. Em o “Conde de Monte Cristo”, do francês Alexandre Dumas, encontramos a história do jovem Edmond Dantès que na solidão de longos anos preso numa masmorra cumprindo pena num presídio encravado numa ilha distante, consegue escapar e sua solidão se transforma em vingança implacável contra seus inimigos. Na canção “Pedaço de mim”, o compositor Chico Buarque de Holanda diz que “a solidão é o pior castigo” e a compara com a mortalha do amor. Passeando pela literatura vamos encontrar sempre a solidão atrelada ao seu lado mais frio e desolador.
Mas quero olhar e voltar a falar dessa vilã sob a ótica de que nada no mundo é inteiramente bom ou completamente ruim. Sem, contudo, distanciar-me do princípio básico de que ao se fechar a porta do quarto essa realidade chega inevitavelmente como um gargalhar imperceptível aos ouvidos humanos.
Mas há, com toda certeza, os exageros que assombram a grande maioria. Isso é fato! O francês Paul Valéry afirma que "Um homem sozinho está sempre em má companhia." Mas seria mesmo tão terrível assim? E as grandes idéias e memoráveis decisões vislumbradas num estalo só encontrado no silêncio de si mesmo? Já o pintor espanhol Pablo Picasso, um dos criadores do cubismo, sustentava que "não se pode fazer nada sem a solidão." O gênio da pintura seguramente foi ao outro extremo. Percebemos que as pessoas passeiam pela sua solidão e a usam com a conveniência desejada; bem diferente de quem se desvanece como vítima de uma solidão impiedosamente cortante.
A solidão então teria multifacetas? Que perigos ela realmente representa além de dilacerar tantos corações? "Não nascemos apenas para nós mesmos” foi dito por Cícero, filósofo grego que viveu antes de Cristo. Vemos na sua reflexão que na solidão há o terrível risco de fechada em seu próprio isolamento, a humanidade esquecer as dores de quem fica do lado de fora e perder a sensibilidade para estender a mão em amparo num mundo onde cada um precisa tanto um do outro. Nos dias de hoje pesquisas mostram que quanto maior a população, maior o isolamento e menor o interesse em ajudar o próximo.
Mas e aquela solidão da alma? Aquela que aquece o mercado de vinhos e vodkas? Longe de qualquer desdém, será que também existe? Centenas de milhões de versos falam desse infortúnio humano, mas vou me reportar a uma canção popular do conhecidíssimo Reginaldo Rossi, chamada “Eu não consigo te esquecer”, na qual o compositor diz que “a solidão é um punhal agudo, mexendo por dentro, rebentando tudo". Continuando bem longe do desdém, sabe-se que nenhum peito até hoje foi cortado fisicamente por uma solidão dessas, mas ninguém pode duvidar dos estragos sofridos pela alma, é bem verdade.
Mas quero voltar ao tema de forma mais profunda e digo que ninguém faz mais perguntas que a solidão. Felizmente quis, por bem, a natureza não separar a solidão do silêncio e “o silêncio responde até mesmo aquilo que não foi perguntado”, segundo Caio Fernando de Abreu.
Então, podemos dizer que a questão seja não servir à solidão; e sim, encontrar nossa própria forma de usá-la a nosso favor? O ponto de equilíbrio seria uma pequena dose quando for preciso o silêncio? Um punhado quando buscarmos a reflexão? Quando se faz necessário conversarmos com nosso íntimo não seria a solidão uma condição indispensável? E não seria fato que todos nós precisamos fazer isso sempre?
Sem contrariar a máxima de Aristóteles, outro filósofo grego que disse que “o homem é um animal social”, e seguramente dela não podemos fugir, certamente podemos concluir que a solidão pode ter a mesma característica dos medicamentos que aliviam, curam, mas também matam, quando indicados com imperícia, na dose certa ou errada.
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